‘Eu sou...’ A princípio nos parece fácil responder, mas não há
resposta possível sem antes fazermos outras perguntas. E quando começamos a
fazê-las iniciamos uma jornada de descobertas. Podemos até nos assustar ao
descobrirmos que a deformação do nosso reflexo não é defeito do espelho.
Katie olhando-se no espelho
Você
já teve a sensação de ter visto um estranho ao se olhar no espelho? Já se sentiu diferente em meio à irmandade mesmo
estando vestido ou agindo igual? Por pensar espontaneamente já foi mal
interpretado e suas perguntas incomodaram aos outros? Quando agiu de modo diferente
de seus irmãos da igreja eles continuaram te tratando igual? E quanto aos seus ‘quês’ e ‘porquês’, estão
todos resolvidos; foram todos respondidos?
A jovem e encantadora Katie Lapp gostava de cantar
músicas ‘inglesas’ (do mundo) com o seu violão, um instrumento considerado
‘inglês’ e não aceito pela comunidade amish, por isso, era vista como uma
rebelde, uma crente ‘torta’ que precisava ser endireitada. Foi excluída da
igreja e do convívio com a irmandade. Todos, inclusive seus pais, deixaram de
falar com ela.
Katie descobriu que fora adotada e nascera
‘inglesa’, passou a sentir-se inferior aos outros, uma estranha em meio sua
comunidade. “Talvez seja este o motivo de não conseguir me adaptar aos costumes”,
pensou.
Não é o costume denominacional que nos torna filhos,
nem agir como os irmãos que nos faz pertencer à família de Deus, na qual fomos
inseridos por “adoção”. Sim, todos fomos adotados - “Mas recebestes o espírito de adoção
de filhos, pelo qual clamamos: Abba, Pai” (Rm 8:15).
Os judeus são os ramos naturais, todos nós (os
gentios) “fomos cortados do natural
zambujeiro e, contra a natureza, enxertados na boa oliveira” (Rm 11:24;16-20)
Isto não faz diferença alguma para Deus, pois nos promete: “Também
lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do
que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles que nunca se
apagará” (Isaías 56:5).
Que
tratamento ou nome seria melhor do que filhos e filhas de Deus? O de amigos de
Deus - Título e honra dado a Abraão, o pai da fé (Tg 2:23). Na família de Jesus ninguém é tratado com empregado embora sejamos servos.
“Já vos não
chamarei de servos, mas tenho-vos chamado amigos” (João 15:15).
Como Katie eu não nasci de pais crentes. Quando vim
para a igreja, muitas vezes me senti inferior aos irmãos ‘nascidos na graça’
que pertenciam a famílias tradicionais que pareciam ‘donas-da-obra’. Por terem
iniciado ou serem os primeiros crentes da igreja tinham um ar de superioridade seus
filhos pareciam príncipes e quem não tinha esta linhagem, aqueles que se
convertia depois, eram como plebeus.
Fico imaginando a sensação de Mefibosete quando se
sentou pela primeira vez para comer com os elegantes príncipes e servos reais,
todo torto e "aleijado de ambos os pés" (v.3) sem a educação dos nobres, tendo que enfrentar os olhares tortos que
viam nele um inimigo de Davi por ser neto de Saul. Mas para o rei, ele era a
lembrança do seu pai Jônatas, o melhor amigo que tivera em toda vida.
“Porém
Mefibosete comerá à minha mesa como um dos filhos do rei” (2 Samuel 9:11)
Aquela bela mocinha não era rebelde, era espontânea.
Só desejava fazer algo que estava em seu coração, como alguém que escreve
poesias queria cantar suas emoções, manifestar os seus sentimentos e seu amor por Daniel Fisher
através da música. Sua coragem a diferenciava, mas sua fé, a tornava filha de
Deus como os outros.
Aqui neste blog muitos compartilharam que ao
buscarem seus sonhos ou desejos foram repreendidos ou censurados na igreja
porque isto “não convinha aos crentes”. Tivemos a bailarina que errou o passo,
o ator que não subiu nos palcos, a atleta impedida de fazer academia, o palhaço
que perdeu a graça, os namorados que tiveram seus beijos censurados, o torcedor
que engoliu o grito de gol, o hino avulso que desafinou o violão, o menino
que saiu do time de futebol, a criança que não viu as atrações do circo e do
parque de diversões, e o crente que tinha medo do mar.
Contrariados tiveram que seguir o modelo de comportamento
que seus irmãos seguiam; vestir o que seus irmãos vestiam, curtir o que os seus
irmãos curtiam. Até pensar como o coletivo pensava. Isso sem falar naquele que
perguntou se era gay e daquele que se assumiu homossexual.
Ser igual aos outros pode muito bem significar não
ser você. Já disse que os usos e costumes podem dar uma roupagem para o
coletivo, mas será uma máscara para o indivíduo que esconderá sua identidade.
O torto, o feio, o diferente que contemplamos podem
ter uma história de muita beleza que não enxergamos. Que exército aceitaria Jacó como soldado?
Sendo coxo até a sua marcha sairia esquisita, porém a batalha que travou contra
um anjo - e prevaleceu – nem mesmo qualquer general experinte de guerra poderia suportar.
As marcas que Deus coloca em nós diferenciando-nos e
que nos fazem únicos, devemos ter orgulho delas não escondê-las. Tal história
de uma menina que beijava o rosto de seu irmão quando os outros tinham aversão
da cicatriz que trazia na face. As marcas eram de queimadura que obteve
salvando-a de um incêndio.
Mefibosete não reclamava por ser coxo. Ele adquiriu esta deficiência aos 05 (cinco) anos de idade. Sua ama antecipou-se a um ataque que matou sua família, e na fuga deixou o menino cair causando-lhe as lesões (2 Samuel 4:4). Era deficiente por causa da fragfilidade de sua babá; hoje estava vivo e criado por causa do amor desta mulher. Quais são as marcas de Deus na sua vida?
Mefibosete não reclamava por ser coxo. Ele adquiriu esta deficiência aos 05 (cinco) anos de idade. Sua ama antecipou-se a um ataque que matou sua família, e na fuga deixou o menino cair causando-lhe as lesões (2 Samuel 4:4). Era deficiente por causa da fragfilidade de sua babá; hoje estava vivo e criado por causa do amor desta mulher. Quais são as marcas de Deus na sua vida?
Eu posso não ter o costume e, mesmo assim, ter a
mesma fé. Eu posso ser ‘plebeu’ e, mesmo assim, ser tão, ou mais, crente que os
‘príncipes’. Eu posso ser diferente, eu posso ser... Eu! E você pode ser você.
Você é especial,
não existe outro igual;
Deus criou
você assim; Diferente de mim.
(Ana Paula
Valadão)
Quem é você afinal? Um produto de um sistema
religioso ou uma nova criatura nascida em Cristo. Você segue cegamente ensinamentos
humanos ou seus olhos foram abertos pela Bíblia, nossa mestra de fé e prática?
És apenas membro de uma igreja ou verdadeiro cristão?
Quando não conseguir ser crente (ou membro) como o
outro é, sejas crente como Deus o quer e o fez.
Pois não foi tua igreja que te fez filho, ou o batismo dela que te dá o
direito de herança. Foi a Palavra que te gerou, foi o Espírito que te adotou,
foi a Graça que te fez herdeiro.
Quando andamos na nossa verdadeira vocação servindo
a Deus sem máscaras, encontramos a paz e a distorção do nosso reflexo no
espelho desaparece.
Katie suspirando ares de mudança
Que reflexão verdadeira, me pareceu uma exortação do púlpito com espiritualidade; dilui os sentimentos egoístas, de que nós somos aquilo que temos, e não o que somos. Deus seja louvado. Amém. jcplae@gmail.com
ResponderExcluirRicardo,
ResponderExcluirQue linda reflexão.
Infelizmente, alguns crentes negam sua condição, que é por essência humana e pecaminosa, sobem num pedestal que homem algum tem condição de estar, e se auto-proclamam anjos, ou o "povo zeloso e de boas obras", penso que aqueles que adotam como principio de fé uma ideologia de uma instituição religiosa criada e gerida por mãos humanas em detrimento a Bíblia como Palavra de Deus e regra de fé e se acham superiores por conta disso, ab rogando para si o título de de "graça", e se referindo ao demais da família de Cristo como primos e não irmãos, na verdade sofrem da síndrome da aureola apertada, algumas das suas convicções não passam de delírio criado por conta do aperto desta auréola que nem existe, mas eles acreditam existir sobre suas cabeças.
Assim como você, eu não sou "filho de pais crentes", algumas vezes, me senti inferior por não poder testemunhar como alguns faziam, até que vi que melhor mesmo foi não ter sido filho de pais crentes, afinal, olha ó o tamanho do amor de Deus por mim, eu estava no mundão, no meio de uma multidão de pecadores, e Deus, por seu infinito amor e misericórdia achou graça em me alcançar com o Evangelho e mensagem de salvação.
Mas dou graças a Deus, por não ter perdido a consciência de que mesmo estando na graça eu continuo sendo um misero pecador que carece da misericórdia de Deus todos os dias, para que minhas faltas e pecados sejam perdoados.
Eu costumo dizer, que essas pessoas que nos apontam o dedo em riste pra nos acusar de ser pecador pelo simples fato de defendermos o evangelho e não instituições, seriam capazes de apedrejar a mulher adultera... Você tem dúvidas disso?
Viva a hipocrisia, presente no cristianismo desde sua fundação.
Fique na paz de Deus!
"Dou graças a Deus perante toda a irmandade por ter tido a sorte de ter nascido em um lar cristão", assim testemunham muitos. Mas veja só que engraçado: Contar perante toda a irmandade que Deus te tirou das drogas, dos vícios, da prostituição... não pode.
ExcluirTem um ensinamento que recomenda que o testemunho seja limitado a: "Dou graças a Deus por ter tido misericórdia de mim".
A jutificativa é que pega mal, dá má impressão... Eu acho é que estão com inveja da grande obra que Deus fez na vida de alguns.
Paulo dizia: Deus "teve misericórdia dos pecadores"
Mas também dizia: "Dos quais eu sou o principal"
Maravilhoso o texto.
ResponderExcluirValeu, AD. Garcia
ExcluirRicardo, a paz de Deus!
ResponderExcluirGostei muito do texto, acho que realmente deve expressar o sente, pois lendo eu sinto verdade em todas as palavras.
Bom, além de não nascer de pais crentes, meu pai abandonou a CCB, depois de quase trinta anos (desde o nascimento) testemunhado* na CCB para casar-se com a minha mãe, católica (continua até hoje). Em casa, somos quatro. Meus pais, eu e uma irmã mais nova e só eu sou batizada na CCB. Minha família por parte de pai é da igreja, mas mesmo assim, nunca fui com eles, embora sempre tivesse um ótimo relacionamento com toda a família.
Eu não sinto tanto esse preconceito que vejo falar por muitos, de ser (ou sentir-me) diferenciada por não ser "crente de berço", talvez seja por congregar numa igreja pequena e com irmãos muito humildes, onde saudam até irmãos de outras denominações com a paz de Deus.
Talvez me sinto estranha quando falo que vou à academia, ou a praia, ou me encontram de calça... Uns não acham nada demais, vejo que até gostariam de ter essa "coragem", outros acham mal testemunho, mas com certeza alguns se incomodam em discutir esses pontos mais polêmicos, por acharem que Deus pode "provar"... Mentalidade de quem não entende que Deus é pura misericórdia e amor incondicional.
Deus abençõe!
MF
Isso foi há algum tempo, mas ainda percebo que os 'principes' que tem a preferencia para ir para o ministério. Ou seja, o filho do ancião que muitas vezes não liga muito para as coisas de Deus, será o futuro cooperador da igreja.
ExcluirTexto perfeito! Vou ler a muitos, para me deixarem ser como realmente quero ser (; Deus abençoe
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