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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Entre o amor e a fé

Imagine-se, num trem com a pessoa amada, feliz por estar realizando a viagem de seus sonhos. Mas a bordo lhe é revelado que o destino é outro. Seu par lhe pede para seguir com ele numa viagem sem volta. Tem casa, emprego e família o esperando. O que você faria? Por amor seguiria com ele? Ou desceria na próxima estação mesmo que isto significaria o fim dos projetos de ambos?

“Por acaso, duas pessoas viajam juntas, sem terem combinado antes?” (Amós 3:3 NTLH).

Hora da decisão. Pode ser assim que se sintam as pessoas que embarcaram num casamento com jugo desigual. Durante ou pouco depois da lua-de-mel, descobrem que seus planos terão que ser refeitos ou mesmo cancelados.  A pessoa se vê então diante de uma encruzilhada, e surge o dilema de qual caminho seguir. Precisa decidir entre o amor e a fé.

Jugo desigual? O termo é usado para expressar as diferenças abismais, conflitantes e confrontantes, sejam elas: temperamentais; culturais; raciais; sociais; conceituais; etárias; ideológicas, entre duas pessoas que inviabilizem uma sociedade ou casamento entre elas. A expressão é comumente utilizada pelas comunidades eclesiais para referirem ao casamento de um membro com uma pessoa de outra religião, ou mesmo de outra denominação. Baseiam-se no verso áureo: “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis” (2Co 6:14).

O que é jugo? É a canga de bois. Artefato que atrelava um animal ao outro e ao temão do arado, distribuindo igualmente a carga ou fardo. Quando desalinhado, desajustado ou desigual, provocava sobrecarga em um e lesões em ambos. No casamento, os cônjuges estão atrelados e devem caminhar lado-a-lado, com os mesmos propósitos e ideais. O manquejar de um levará ao descompasso do outro. A mulher foi criada para ser adjutora (estar lado) do homem (Gn 2:18). Por isso a comparação.

O ‘julgo’ eclesial. Vezes acontece de um rapaz ou moça de um grupo eclesial se apaixonar por uma pessoa de outra religião, ou como é mais comum, de outra denominação. Junto com o namoro começam os olhares tortos, o julgo (julgamento) eclesial, de seus irmãos de fé que não simpatizam com a união. Passa a ser visto como a ovelha-negra do rebanho. Ao tomar este trem, dizem que ele próprio está saindo dos trilhos.

Cruz! Credo! É tão difícil um casal de diferentes credos viverem bem? Infelizmente, sim. Ao mesmo tempo em que as religiões são fascinantes, são confrontantes. Quando as igrejas são compatíveis em credo, os costumes são diferentes. Respeitar a religião alheia é uma coisa; conviver em harmonia, vinte e quetro horas por dia, é outra. Você pode até suportar as dietas alimentares ou aceitar a ausência de seu cônjuge em algumas festividades. Mas ficaria passível ao ver seu filho morrendo e ele (cônjuge) interferindo no trabalho médico, impedindo uma transfusão de sangue ou órgãos? Permitiria que seu dinheiro fosse administrado por um patriarca? Como reagiria ao descobrir que quem mandará na sua casa é sua sogra como é o costume de algumas religiões?

Evangelho x religião. Muito tenho a falar sobre jugo desigual. Este texto mal serviu de introdução ao tema, mas posso garantir que a Bíblia não é a culpada dessa confusão toda e que o Evangelho não advoga a favor de qualquer placa denominacional. Nossas interpretações que o são. Ou seja, em certos casos, o julgo eclesial é o promotor do jugo desigual. Por isso: 'Eu reprovo a religião porque ela fragmenta os homens, enquanto que o evangelho unifica as pessoas. A religião sempre foi um dos maiores fenômenos que fragmentou ou dividiu pessoas na história humana. O evangelho por sua vez, sempre visou a unidade mesmo em meio as diversidades (diferenças humanas) através do espírito de amor e serviço manifestados em Cristo Jesus. Eu reprovo a religião... Enquanto amo, cada dia mais, o Evangelho de Cristo Jesus' (Li no Blog da Regina Farias).

Religião não se discute. Ao contrário desta máxima popular, devemos discutir sim. Bem posso respeitar a religião do outro, porém, debaixo do meu telhado não haverei de concordar que minha fé seja acareada. Não quero alguém que tolere, mas compartilhe de minha adoração. Quem estiver passando por isso, não deixe a conversa para depois. Resolvam tudo primeiro ou, por acaso, “Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” (Am 3:3). Pouquíssimas são as pessoas que conseguem conciliar seus diferentes credos e viver bem a relação. A maioria acaba, numa ou noutra estação, saltando do trem.